8 problemas que ameaçam as empresas familiares

“Os executivos de maior sucesso são, com frequência, pessoas que construíram suas próprias empresas. Ironicamente, seu sucesso muitas vezes traz, para eles mesmos e para os membros das suas famílias, problemas pessoais de uma intensidade raramente enfrentada pelos gerentes profissionais. E esses problemas tornam as empresas familiares as mais difíceis de operar.” — Harry Levinson.

 

Considerações iniciais

Como temos descrito nesta série de artigos, as empresas familiares são a sustentação do desenvolvimento econômico dos países, e muitas delas alcançam posições de liderança nos setores em que atuam.

No Brasil, 90% das PME e 50% das maiores empresas são familiares. Elas estão distribuídas por todos os setores, desde o agronegócio até a indústria da construção civil, representam algo próximo de 65% do PIB nacional e empregam 75% da força de trabalho.

Apesar dessa posição de destaque na economia do país, uma pesquisa do IBGE registrou que 30% das empresas familiares sobrevivem à segunda geração e apenas 5% sobrevivem até a terceira geração de sucessores.

Com o objetivo de contribuir para que as famílias empresárias e gestoras possam manter a perenidade dos seus negócios, trazemos neste artigo as principais ameaças que assolam as empresas familiares brasileiras. Confira!

 

As principais ameaças às empresas familiares

 

1. Guerras familiares

É muito comum a pessoa ser o pai, diretor geral da empresa, principal acionista e presidente do conselho de administração.

Ao mesmo tempo, a filha mais velha exerce o papel de gerente comercial. O filho do meio exerce o papel de gerente industrial e é responsável pelos novos negócios da empresa. O filho caçula é recém-formado e está no papel de estagiário da área comercial, subordinado da filha mais velha.

A mãe, por sua vez, atua como executiva de outra organização, porém é acionista e faz parte do conselho de administração da empresa da família, juntamente com todos os filhos e o pai.

Neste contexto, que é muito comum nas empresas familiares brasileiras, fica muito difícil a separação entre o âmbito familiar e o âmbito da empresa. A história, a relação interpessoal, os valores e as regras de comportamentos familiares passam a ser os fatores predominantes na empresa.

Dessa forma, a empresa se torna vulnerável às tensões internas resultantes de problemas externos e de relacionamentos interpessoais familiares mal resolvidos, alguns conscientes e não declarados, e outros que nem sequer são conscientes na família.

Nasce então, no cerne da gestão da empresa, as chamadas “guerras familiares”. Irmãos tentam superar uns aos outros enquanto filhos lutam com os pais pelo “trono”. As diferenças de opiniões a respeito de como dirigir a empresa se transformam em grandes divisões e o futuro da empresa fica seriamente ameaçado.

 

2. Empreendedorismo vs Competência de gestão

Muitas pessoas possuem “veia” inata de empreendedorismo e, de forma brilhante, conseguem derrubar barreiras, construir o seu próprio negócio e dirigi-lo de forma adequada durante os primeiros anos com o apoio da família.

Conforme a empresa cresce, o mercado muda, a competição aumenta e muitas vezes a gestão da empresa necessita de novas competências que o fundador e a família não possuem. Ou seja, o fato do fundador ou seus herdeiros possuírem hoje a propriedade e a capacidade de gerir a empresa não significa garantia de que tenham habilidade adequada para dirigir a empresa em situações futuras.

No entanto, percebemos que para grande parte dos proprietários de empresas familiares é muito difícil de aceitar essa realidade e agir em consequência disso.

 

3. Finanças

Ao longo da nossa trajetória de prestação de serviços de consultoria de gestão empresarial para empresas familiares, percebemos que principalmente as empresas de médio porte já possuem nível básico de gestão financeira e alguns controles e demonstrações econômico-financeiras.

Mesmo assim, as demonstrações são desenvolvidas, quase que intuitivamente, em planilhas que normalmente trazem alguns benefícios para a gestão da empresa, mas normalmente são permeadas pelos equívocos que listamos abaixo:

  • Querem saber o lucro do negócio através do fluxo de caixa;
  • Confundem as diferenças entre faturamento e recebimento;
  • Misturam recebimentos do mês com recebimento de vendas a prazo de meses anteriores;
  • Misturam despesas pessoais com as despesas da empresa;
  • Pagam dividendos conforme às necessidades familiares e não com os resultados gerados;
  • Desconhecem ou desprezam o regime de competência;
  • Não controlam pequenas despesas, principalmente as pagas em dinheiro;
  • Não fazem o controle de estoque adequadamente;
  • Utilizam o volume comprado como custo do produto.

A execução de alguns ou todos esses equívocos ao longo do tempo, trazem problemas de distorção de resultados que, mais cedo ou mais tarde podem representar a perda de valor do negócio, da capacidade de competição e comprometer a própria sobrevivência da empresa.

 

4. Dificuldade de renovação organizacional e inovação

De modo geral, muitas empresas familiares possuem dificuldades de encarar as necessidades de renovação do seu pessoal, da sua cultura e da inovação dos seus sistemas e processos em geral.

O estilo de gestão normalmente centralizadora e a predominância dos critérios familiares sobre os empresariais, dificultam o amadurecimento e a profissionalização do seu pessoal e podem atrasar as atualizações e mudanças necessárias para a perpetuação da empresa.

É muito comum percebermos fortes dificuldades de mudanças visando a melhoria da competitividade da empresa como: programas de capacitação de pessoas, aprimoramento de sistemas e ferramentas de gestão, desenvolvimento de programas de planejamento estratégico, planos de marketing entre muitos outros.

 

5. Laços afetivos

Na família, você é avaliado pelo que é e na empresa, pelo que faz. Sendo assim, dentro da organização, o esforço de cada pessoa deve contribuir de forma direta ou indireta na geração dos resultados operacionais e, em troca, receber parte do que foi gerado. Essa máxima parece muito simples, mas nas empresas familiares, devido principalmente aos laços afetivos, há grande dificuldade em executá-la.

É muito comum percebermos membros da família receberem mais do que contribuem ou exercerem funções para as quais não possuem competência adequada. A consequência dessas práticas é a deterioração do compromisso de dedicação e do senso de justiça das pessoas que não pertencem à família. Isso pode comprometer ao longo do tempo a capacidade competitiva da empresa familiar.

 

6. Atraso no planejamento de sucessão

O fator mais crítico para assegurar a continuidade de uma empresa familiar é planejar a sucessão empresarial com antecipação. Uma sucessão bem-feita exige um ótimo nível de planejamento, sem improvisações. Exige também que não exista o pensamento: depois de mim, o dilúvio.

Com o objetivo de garantir a perenidade da empresa familiar, o fundador (no caso de empresas de primeira geração) deve enfrentar todas as barreiras para preparar e executar o plano de sucessão com antecipação. Essa será a comprovação de sua maior grandeza: saber delegar as próprias atribuições e responsabilidades a alguém que atenda ou supere as suas competências profissionais na empresa.

 

7. Gestão inadequada

Principalmente nas empresas familiares de menor porte, caracterizadas por uma estrutura organizacional personalista, percebemos (e é razoável) um baixo nível de maturidade na gestão, com sistemas e processos pouco formalizados e política de gestão de pessoas normalmente desconectada do mercado onde estão inseridas.

A seguir descrevemos algumas das características de empresas com nível baixo de maturidade de gestão:

  • Planejamento (de curto e médio prazos) muito incipiente;
  • Planejamento (de longo prazo) praticamente inexistente;
  • Processos operacionais informais e vulneráveis às perdas geradas pelo fator tempo;
  • Análise e controle de processos inadequados;
  • Liderança incapaz e atrofiada pelo modelo de gestão modelador e centralizador;
  • Reuniões e canais formais de comunicação inexistentes, improdutivos e ineficazes.

A grande maioria das empresas, familiares ou não, nasce com nível de maturidade de gestão baixo, isso é natural, mas a grande questão está na capacidade da empresa aprimorar continuamente o seu nível de gestão, aprimorando a sua competitividade e garantindo a sua perpetuação.

 

8. Governança inadequada

De modo geral no Brasil, durante a última década, o interesse pelo tema governança vem aumentando bastante. Os empresários têm percebido que a preocupação com a boa governança não deve se limitar às empresas que têm cotação em bolsa.

Muito pelo contrário, as empresas familiares, por conta de suas particularidades e em alguns casos da sua complexidade estrutural, devem buscar desenvolver um sistema de governança para dirigir a empresa estrategicamente, controlar a alta administração e prestar contas aos acionistas, investidores e outros agentes.

O desafio para as empresas familiares está em delimitar cada uma dessas três funções e definir quem e como deve se fazer cada uma dessas atribuições.

 

Considerações finais

A VBMC Consultores se tornou especialista em consultoria empresarial para empresas familiares devido justamente à grande concentração de clientes deste tipo ao longo dos anos de serviços prestados. Nossos projetos e soluções foram se moldando para atender às necessidades deste grupo de empresas que demandam alguns pontos peculiares.

Sobre esse tema, recomendamos a leitura do livro Empresas familiares: seus conflitos clássicos e como lidar com eles de Grant Gordon e Nigel Nicholson.

Acompanhe os outros artigos desta série e querendo conhecer mais sobre gestão de empresas familiares entre em contato conosco.

 

Autor: Rodrigo de Paula | Sócio da VBMC Consultores

 

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