Empresa familiar: entenda o conceito e conheça os tipos

 

Considerações iniciais

As empresas familiares representam um elemento importante da estrutura econômica do nosso país e de todo mundo. Porém, sua importância não as torna isentas dos problemas de qualquer outra empresa e muito menos dos problemas oriundos da presença da própria família no ambiente corporativo.

Apesar de toda representatividade das empresas familiares na economia mundial, os estudos destinados especificamente a este tipo de empresa, sob o ponto de vista acadêmico e da pesquisa, são relativamente recentes. Para se ter uma ideia, a empresa familiar se tornou disciplina de economia somente na década de 1980 na Universidade de Harvard.

A VBMC Consultores se tornou especialista em consultoria de gestão para empresas familiares devido à grande concentração de clientes deste tipo ao longo dos anos de serviços prestados. Nossos projetos e soluções foram se moldando para atender às necessidades deste grupo de empresas que demandam alguns pontos peculiares.

Em nossa nova série de artigos, descreveremos os conceitos, tipos, características, desafios, fortalezas entre outros aspectos dessas empresas, baseados em nossa experiência de desenvolvimento e implantação de projetos de consultoria de gestão de empresas familiares.

Neste primeiro artigo, iniciaremos definindo o conceito de empresa familiar e descrevendo os tipos de existentes. Para quem deseja se aprofundar neste tema, recomendamos a leitura do excelente livro Gestão da Empresa Familiar, de José Carlos Casillas, Adolfo Vázquez e Carmen Díaz.

 

O que é uma empresa familiar?

 As empresas familiares constituem a espinha dorsal da economia de quase todos os países do mundo e o capital das nações depende muito deste grupo. A maioria das principais organizações do mundo tiveram origens familiares e algumas ainda possuem forte identidade familiar, como a americana Cargill, a coreana Samsung e a alemã BMW.

As empresas familiares constituem um grupo particular de organizações que possuem certos problemas, necessidades, forças e desafios comuns que nos remetem a uma questão: O que é uma empresa familiar?

Existe uma significativa dificuldade em se obter um consenso sobre a definição clara de uma empresa ser considerada empresa familiar, entretanto a maioria das definições gira em torno de três aspectos:

  1. PROPRIEDADE – se refere a percentagem de participação de uma família no capital da empresa ou o fato de uma determinada família controlar a empresa;
  2. GESTÃO – o poder que a família exerce sobre a direção da empresa, normalmente pelo trabalho executado por alguns membros da família na alta administração;
  3. SUCESSÃO – a intenção de continuidade da empresa a futuras gerações da família, ou seja, o desejo da manutenção da participação de novas gerações na empresa.

Na prática, a definição simplista e bipolar de delimitar se uma empresa é familiar ou não familiar, não é bem aplicável, dada a grande quantidade de variáveis existentes entre os aspectos PROPRIEDADE, GESTÃO e SUCESSÃO.

Fica mais adequado uma classificação de acordo com a ordem de grandeza de maior ou menor influência e compromisso familiar com a empresa, ou seja, as empresas são mais ou menos familiares de acordo com algumas dimensões.

A seguir descrevemos as dimensões que influenciam diretamente no sentido de caracterização de uma empresa ser mais ou menos familiar dentro dos três aspectos apresentados:

 

1. Propriedade

  •  Porcentagem de ações pertencentes a família;
  • Controle da empresa por uma determinada família;
  • Presença e porcentagem de membros da família nos órgãos de governança.

 

2. Gestão

  •  Volume e representatividade de membros da família nos níveis executivos;
  • Influência da família na estratégia da empresa;
  • Predomínio da cultura própria da família na empresa.

 

3. Sucessão

  • O grau de compromisso da família com a empresa;
  • Geração da família em que a propriedade da empresa se encontra;
  • Geração da família em que a gestão da empresa se encontra.

 

Os tipos de empresas familiares

 

1. Fatores sociodemográficos

Sob os aspectos sociodemográficos como: porte, idade, setor de atividade, forma jurídica e atuação geográfica, as empresas familiares são tipificadas como outra organização qualquer, ou seja, existem empresas familiares:

  • grandes, médias e pequenas;
  • locais, nacionais ou multinacionais;
  • sociedades limitadas, anônimas ou de outros tipos;
  • com capital aberto e cotação em bolsa de valores etc.

Vale ressaltar que, no que se refere ao porte, apesar da grande maioria das PME (pequenas e médias empresas) realmente serem familiares, não podemos desconsiderar que existem diversos exemplos de empresas familiares nacionais e internacionais de grande porte, como a multinacional americana Walmart com a família Walton detendo 49% do capital da empresa.

Como curiosidade e exemplo de representatividade, conforme pesquisa conjunta da EY e Universidade de St. Gallen da Suíça, as 500 maiores empresas familiares no mundo são responsáveis por empregar 24,1 milhões de pessoas e por um faturamento de 7,28 trilhões de dólares.

A JBS, maior empresa familiar do Brasil, é a maior produtora de proteína do mundo, emprega 250 mil pessoas e tem um faturamento de 52,2 bilhões de dólares.

Em nosso país, as 10 maiores empresas familiares representam um faturamento de 101,4 bilhões de dólares e além da JBS, as outras nove são: Marfrig, Gerdau, Votorantim, CSN, Magalu, Cosan, Energisa, WEG e Porto Seguro.

 

2. Geração

O principal critério de classificação de empresas familiares está relacionado a geração que está envolvida na empresa. É muito comum ouvirmos dizer que uma determinada empresa é de primeira ou segunda geração.

Esta classificação é muito interessante e comumente aplicada porque as gerações envolvidas normalmente estão diretamente relacionadas a alguns aspectos relevantes como:

  • Problemáticas similares em função das gerações envolvidas na empresa;
  • Idade organizacional, maturidade de gestão e ciclo de vida;
  • Número de proprietários e suas relações;
  • Porte e/ou grau de diversificação da empresa.

Seguem as classificações das empresas familiares por geração e algumas características de cada uma delas:

  1. Empresa de primeira geração – são empresas controladas pelo fundador. Nesta primeira classificação, a propriedade pode ser única ou compartilhada com membros da família ou não. Para ser considerada empresa familiar, a empresa deve conter pelo menos algum membro da próxima geração (filhos ou sobrinhos) atuando na alta administração ou na governança.
  2. Empresa de segunda geração – nesta classificação, o fundador já transitou o controle efetivo da empresa para um segundo nível, sejam filhos ou sobrinhos. Normalmente a propriedade costuma pertencer a vários familiares e o controle da gestão pode estar nas mãos de profissionais externos (empresa familiar profissionalizada), integralmente nas mãos dos membros da família ou no formato híbrido (profissional e família).
  3. Empresa de terceira geração ou mais – são empresas em que os netos (bisnetos etc.) do fundador são os principais proprietários e diretores. Nesta categoria, devido a complexidade existente, é necessário a empresa ter estruturado sistemas formais de governança que amparam a relação e entre a empresa e a família.

 

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3. Vínculo entre família e empresa

O terceiro critério de classificação de empresas familiares se refere à capacidade de sucessão familiar e ao nível de dedicação dos membros da família com a empresa.

Percebemos que essa classificação, muitas vezes, acaba sendo uma evolução natural do vínculo entre família e a empresa, principalmente quando as gerações posteriores acabam optando por não atuar na gestão da empresa da família.

Dessa forma, a seguir descreveremos as classificações:

  1. Empresa de trabalho familiar – os membros da família gerenciam a empresa e existe de alguma forma a intenção de sucessão e consequente incentivo dos pais para que os filhos trabalhem na empresa e assim sucessivamente.
  2. Empresa de direção familiar – os membros da família mantêm o controle apenas da propriedade da empresa, transferindo a direção e a gestão aos familiares que tenham mais competência. Nesta classificação apenas alguns familiares atuam como executivos na empresa e os demais permanecem vinculados a empresa como acionistas.
  3. Empresa familiar de investimento – os membros da família dedicam-se exclusivamente a controlar as decisões de investimento nos negócios, não se envolvendo na gestão da empresa. O objetivo da família é apenas maximizar a rentabilidade do negócio oferecendo liberdade de atuação para o gerenciamento da empresa.

 

Considerações finais

Neste artigo, para início das reflexões sobre este tema, apresentamos o conceito e as classificações de empresas familiares. Nos próximos artigos iremos apresentar algumas problemáticas que percebemos em nosso dia a dia em implantação de projetos de consultoria de gestão empresarial em empresas familiares.

Leia também os outros artigos desta série:

E, querendo conhecer mais sobre gestão de empresas familiares, entre em contato conosco! Somos uma empresa de consultoria empresarial que promove há anos resultados através de programas de gestão.

 

Autor: Rodrigo de Paula | Sócio da VBMC Consultores

 

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