Inteligência emocional na liderança: o que é, componentes e como avaliar a sua

 

Introdução

Quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto e às vezes mais do que a razão. Hoje a visão do puramente racional está cada vez mais distante à luz do que a ciência diz acerca do lugar que as emoções ocupam em nossas vidas.

Em 1989, Stanley Greenspan foi o primeiro a apresentar um modelo de inteligência emocional (IE) que foi seguido e aprimorado por Peter Salovey e John D. Mayer em 1990.

Desde então, são vários os modelos teóricos de inteligência emocional, cada um respaldado por descobertas realizadas em pesquisas científicas abordando diversas facetas da IE.

Uma das mais conhecidas teorias sobre inteligência emocional no mundo foi descrita em 1995 no livro Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente de Daniel Goleman. 

Dentre as suas publicações, Goleman apresenta o espectro da IE como competência de liderança no seu livro Liderança: A inteligência emocional na formação do líder de sucesso. Trata-se de um livro bem compacto, que traz um apanhado de artigos e publicações sobre o tema na Harvard Business Review e outras mídias.

Os líderes no mundo corporativo enfrentam demandas emocionais ao buscar resultados por meio de pessoas. Conhecer os princípios da IE pode contribuir para que os líderes e seus liderados alcancem o máximo de seu potencial, e pode protegê-los dos efeitos negativos de relações emocionalmente difíceis. Este artigo traz um pouco desse espectro da IE no que se refere à liderança.

 

O que é inteligência emocional?

De uma forma muito simplista, o nosso cérebro possui um dispositivo para armazenar as memórias comuns, chamado de hipocampo, responsável por memorizar fatos específicos de um acontecimento. Enquanto um outro dispositivo, chamado de amígdala cortical, é responsável por armazenar as emoções envolvidas neste mesmo acontecimento.

Portanto, o hipocampo é crucial no reconhecimento do rosto do seu colega de trabalho, mas é a amígdala que memoriza que você não vai com a cara dele, por exemplo.

As regiões neocorticais do cérebro, localizadas atrás da testa, são os gestores das emoções, trazendo uma resposta mais analítica ou adequada aos nossos impulsos emocionais, equalizando a amígdala e outras áreas límbicas. Portanto as ligações entre as amígdalas, as estruturas límbicas e o neocórtex são o “centro de batalha” entre a “cabeça e o coração”.

O interessante é que pesquisas demonstram que os sentimentos são indispensáveis para a tomada de decisões racionais. Pessoas com deficiência nesse chamado “centro de batalha”, entre as regiões neocorticais e as amígdalas, apresentam sérias dificuldades na tomada de decisão porque elas perdem o acesso ao que foi emocionalmente aprendido.

Inteligência emocional é a capacidade de gerenciarmos as nossas emoções e os nossos relacionamentos com eficácia. Quem tem boa inteligência emocional consegue trabalhar bem em equipe, se comunicar de forma eficaz, ter boa adaptação à mudança, boa interação com as pessoas e boa capacidade de resolver problemas sob pressão, competências de liderança muito demandadas pelo mercado de trabalho atualmente.

 

Os componentes da inteligência emocional na liderança

 

1. Autoconsciência 

A autoconsciência é o primeiro componente da inteligência emocional e significa a compreensão profunda das próprias emoções, ou seja, saber reconhecer e interpretar os seus bloqueios, forças e fraquezas. 

Os líderes com forte autoconsciência:

  • Não são críticos demais e nem muito otimistas (sonhadores), conseguem ser honestos consigo mesmos e com os outros sobre os seus sentimentos;
  • Se percebe, por exemplo, que não trabalha bem com prazos apertados, planeja bem o seu tempo para entregar antecipadamente;
  • É capaz de trabalhar bem com um cliente difícil, por exemplo, ao compreender os impactos do comportamento do cliente no seu “estado de espírito” e transformar o que poderia ser raiva em algo construtivo (diga-se de passagem, nada fácil de fazer); 
  • Sabe para onde está indo e por quê. É capaz de rejeitar uma oferta de trabalho financeiramente tentadora porque sabe que não se enquadra em seus princípios e objetivos;
  • Por compreenderem muito bem os seus sentimentos, conseguem se comunicar com precisão podendo se expor abertamente, promovendo a empatia no interlocutor;
  • Conhecem as suas limitações e forças, portanto não interpretam o feedback de que precisam melhorar como ameaça ou um sinal de fracasso.

Vale ressaltar que muitos executivos confundem franqueza com “insegurança” e deixam de dar o devido respeito aos líderes que reconhecem abertamente suas deficiências e sentimentos. Muitas vezes esses líderes com boa autoconsciência são erroneamente interpretados como incapazes de liderar por “não serem suficientemente firmes”.

 

2. Autocontrole (autogestão)

O autocontrole ou autogestão é a nossa capacidade de administrarmos os nossos impulsos biológicos que dirigem as nossas emoções. 

Não podemos eliminar os nossos impulsos, mas podemos e devemos controlá-los. O autocontrole é aquela “conversa interna” que fazemos continuamente que nos liberta de sermos prisioneiros dos nossos impulsos.

As nossas emoções descontroladas distorcem as nossas comunicações, os nossos julgamentos e interferem totalmente na consciência da situação.

Líderes que conseguem ter um bom autocontrole:

  • Têm mau humor ou impulsos emocionais como todos os outros, mas encontram meios de controlá-los e até mesmo de canalizá-los para formas mais adequadas às circunstâncias;
  • São capazes de criar um ambiente de confiança onde a politicagem e as rivalidades são significativamente reduzidas e a produtividade é superior;
  • São capazes de manter o ambiente organizacional mais sereno, criativo e aberto à mudança;
  • Tendem a ser mais íntegros, pois conseguem controlar os seus impulsos biológicos em dizer sim para uma tentação antiética;
  • Conseguem superar mais rapidamente a frustração e a depressão oriundas do fracasso e permanecerem motivados e otimistas mesmo em situações adversas.

Da mesma forma que a autoconsciência, o autocontrole nem sempre é reconhecido. Pessoas capazes de controlar as suas emoções muitas vezes são vistas como “frias” e seus comportamentos ponderados são vistos como “falta de paixão”.

 

3. Empatia

Empatia é a capacidade de nos colocarmos no lugar de outras pessoas, compreender as emoções sob a perspectivas delas.

Todas as pessoas têm a capacidade de captar as emoções alheias, no entanto para algumas pessoas o processo é espontâneo e para outras exige um esforço consciente.

Para um líder, empatia não significa adotar as emoções das outras pessoas como as suas próprias e tentar agradar a todos, isso seria uma tragédia. Muito pelo contrário, empatia significa levar em consideração o sentimento dos outros para que você possa tomar decisões inteligentes e adequadas.

Líderes que têm empatia:

  • São capazes de sentir e entender os pontos de vista de todos em uma equipe;
  • Promovem maior colaboração entre os membros da equipe e a sua capacidade de comunicação favorece o conhecimento da estrutura emocional de cada um;
  • Fazem da empatia o antídoto natural dos potenciais problemas gerados por ambientes cada vez mais diversos etnicamente e culturalmente;
  • São capazes de dar feedbacks eficazes aos membros da equipe, promovendo a retenção de talentos e o alto desempenho;

A empatia nem sempre é respeitada no mundo dos negócios. Algumas pessoas questionam como o líder empático vai conseguir tomar decisões duras se estiver “sentindo” por todas as pessoas que serão afetadas. Porém os líderes com empatia fazem mais do que simpatizar com pessoas à sua volta, eles usam dos seus conhecimentos para contribuir com o aperfeiçoamento das empresas onde estão, de forma discreta e importante.

 

4. Habilidade social

O último componente da inteligência emocional é a habilidade social, que significa a capacidade de uma pessoa se relacionar com outras. Habilidade social não é tão simples como parece. Não é somente uma questão de cordialidade, mas também de conduzir as pessoas na direção que você deseja.

A habilidade social é considerada uma capacidade básica da liderança e permite que o líder coloque em prática sua inteligência emocional.

Líderes socialmente hábeis:

  • Tendem a ter um amplo círculo de conhecimento e facilidade de desenvolver afinidades, pois pressupõe que sozinhos não conseguem realizar nada importante;
  • Conseguem culminar os outros componentes da IE, gerindo bem os relacionamentos, entendendo e controlando as suas próprias emoções e sendo empáticos com os sentimentos dos outros;
  • São naturalmente otimistas, gostam do trabalho e o seu “brilho” reflete nas conversas e encontros tornando-os populares por um bom motivo;
  • Possuem grande capacidade de persuasão;

Líderes com habilidade social podem às vezes parecerem que estão de “papo furado” pelos corredores com pessoas que sequer estão ligadas ao seu cargo. Mas essa pode ser uma visão equivocada de quem está buscando desenvolver vínculos, porque sabe que um dia pode vir a precisar dessas pessoas.

 

Como avaliar sua inteligência emocional? 

A boa notícia é que as competências de inteligência emocional podem ser aperfeiçoadas. Aliás, o aprimoramento da IE deve ser um processo contínuo e incessante que todos nós devemos buscar. 

Conseguimos aprimorar a nossa inteligência emocional com o auxílio de avaliações psicométricas (DISC, TEIque entre outras), coaching ou mentoria, avaliações de desempenho e feedback, registro de metas e planos, análise 360º, autorreflexão, entre outros.

No sentido de promover a autorreflexão, trouxemos algumas perguntas que contribuem para avaliarmos as nossas forças e limitações no que se refere à inteligência emocional:

  • Você costuma estar consciente de seus sentimentos e por que se sente assim?
  • Você está consciente das suas limitações, bem como de suas forças como líder?
  • Você consegue lidar bem com as suas emoções negativas, por exemplo, recuperar-se rapidamente quando fica contrariado ou tenso?
  • Você consegue se adaptar facilmente frente às mudanças?
  • Você mantém o foco em seus objetivos principais e conhece os passos necessários para chegar lá?
  • Você normalmente consegue perceber os sentimentos das pessoas com quem interage e entender suas formas de ver as coisas?
  • Você possui boa capacidade de persuasão e utiliza dessa capacidade com eficácia?
  • Você consegue conduzir uma negociação a um acordo satisfatório e ajudar a minimizar conflitos?
  • Você trabalha bem em equipe ou prefere trabalhar sozinho?

 

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Autor: Rodrigo de Paula | Sócio da VBMC Consultores

 

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