
Foco no lucro: como implementar um DRE gerencial simples e útil
Se você busca como implementar um DRE gerencial simples e útil, este material organiza os fundamentos e o passo a passo para construir um DRE que sirva à decisão — sem complicar, sem jargão desnecessário e com uma rotina mensal que cabe na realidade de pequenas e médias empresas.

Introdução
O DRE fiscal nasce para cumprir exigência legal; o DRE gerencial existe para apoiar a gestão. São documentos diferentes por natureza e propósito. Enquanto o fiscal prioriza regras contábeis e formatos padronizados, o gerencial reorganiza as contas na lógica de decisão, permitindo ver onde a margem nasce e onde se perde, quais produtos/canais/unidades sustentam o resultado e que ajustes imediatos melhoram o mês seguinte.
Quando o negócio cresce sem visibilidade, surgem sintomas fáceis de reconhecer: faturamento aumenta, mas a sobra não acompanha; o fechamento “escorrega” no calendário; e cada área conta uma história. O DRE gerencial ataca a causa: padroniza conceitos, cria um quadro único de análise e estabelece rituais para transformar dados em decisões com responsáveis e prazos.
Princípios do DRE gerencial
- Regime de competência. Reconheça receitas e custos no mês em que ocorrem. Isso evita distorções de caixa (adiantamentos, parcelamentos, sazonalidade de pagamentos).
- Margem de contribuição no centro. Explicite impostos e deduções de venda, custos variáveis (CMV/CPV, comissões, frete de entrega, meios de pagamento) e só depois analise despesas fixas. Assim você enxerga rapidamente a “motorista” do resultado.
- Simplicidade primeiro. Comece com um plano de contas enxuto. Detalhes excessivos travam a leitura e atrasam o fechamento. Aprofunde depois que a rotina estiver estável.
- Cortes por centro de resultado. Além do consolidado, crie ao menos um recorte relevante (produto, canal, unidade, carteira). É no corte que aparecem alavancas e desperdícios escondidos no total.
- Cadência D-5. Fechamento até o 5º dia útil: rapidez para decidir enquanto o mês ainda é “corrigível”. Ritmo previsível cria cultura.
Você precisa mesmo de um DRE gerencial?
Use o checklist. Se marcar duas ou mais afirmações, priorize a implantação:
- Não sei a margem de contribuição e o lucro por canal/unidade.
- Despesas pessoais e empresariais ainda se misturam nas contas.
- O fechamento oscila (sai no dia 10, às vezes no 20) e perde relevância.
- O DRE atual é extenso e pouco claro — ou nem existe de fato.
- Não comparo Real × Orçado nem Últimos 12 Meses (U12M).
Sem esses fundamentos, a empresa decide no escuro: correções chegam tarde, iniciativas competem por prioridade e a margem “escorre” por detalhes que ninguém rastreia.
Passo a passo para montar em 30 dias
1) Defina recorte e meta da versão 1.0
Comece pequeno e funcional. Estabeleça que a versão 1.0 entregará uma visão mensal consolidada e, no mínimo, um corte por centro de resultado (por exemplo, Varejo × B2B). A meta é fechar em D-5, apresentar em ritual mensal e sair da reunião com plano de ação para as principais variações.
- Escopo: consolidado + 1 ou 2 recortes críticos do negócio.
- Meta: D-5 com leitura clara e objetiva.
- Histórico: reprocessar ao menos 2 meses para criar série inicial.
2) Crie um plano de contas enxuto
O encadeamento recomendado é: Receita bruta → Deduções (impostos, devoluções, descontos) → Receita líquida → Custos variáveis (CMV/CPV, comissões, frete de entrega, meios de pagamento) → Margem de contribuição → Despesas fixas (administrativas, comerciais, operacionais) → EBITDA → Despesas financeiras → Depreciação/Amortização (se relevante) → Resultado antes de impostos → Tributos → Lucro líquido.
Mantenha a árvore curta no início. Se a leitura ficar lenta, você detalhou demais. Se as decisões ainda parecerem “cegas”, então sim: desdobre as contas essenciais.
3) Separe variável de fixo (sem confundir fretes)
Variável acompanha as vendas: descontos, impostos sobre venda, comissões, frete de entrega, taxas de cartão. Fixo existe mesmo sem vender: aluguel, salários administrativos, TI, contabilidade. Um erro recorrente é lançar frete de compra como despesa — ele compõe o custo do produto (CMV). Já o frete de entrega pertence aos custos variáveis (venda).
4) Defina critérios de rateio objetivos e revisáveis
O objetivo do rateio é aproximar o custo da realidade operacional. Escolha um critério por conta, documente e revise a cada 6 meses. Exemplos práticos:
- Folha administrativa: FTE (equivalência de tempo) ou horas alocadas por área.
- Aluguel/Utilidades: m² ou número de estações de trabalho.
- TI/Equipamentos: quantidade de usuários.
- Logística compartilhada: número de pedidos ou volume movimentado.
- Nota: 20h/semana em jornada de 40h = 0,5 FTE.
5) Concilie e integre as fontes de dados
O DRE gerencial só é útil se os dados forem confiáveis. Monte um checklist mínimo do fechamento e esclareça “quem entrega o quê” em cada data:
- Faturamento: ERP/PDV com notas e devoluções batidas.
- Estoques e CMV: inventário, compras e custo médio ponderado.
- Despesas: balancete + planilhas de centros de custo.
- Financeiro: conciliação bancária e relatórios de meios de pagamento.
Checklist D-5: conciliações concluídas, posição de estoques fechada, provisões (13º/férias) registradas, impostos a recolher e despesas a apropriar devidamente lançadas.
6) Monte as visões que ajudam a decidir
Ofereça três “lentes” na versão 1.0: mês corrente, acumulado no ano e Últimos 12 Meses (U12M). No mínimo, crie: consolidado, por centro de resultado e Real × Orçado. Inclua um quadro com as 10 contas que mais variaram, com breve explicação do gestor responsável e ação proposta.

7) Estabeleça o ritual de gestão (governança leve)
Ritmo previsível evita “reuniões de torcida”. Sugestão de agenda mensal (50 minutos):
- 15 min — Destaques do mês: visão macro, riscos e oportunidades.
- 10 min — Margem por centro: o que sustentou/derrubou o resultado.
- 15 min — Plano de ação: variações críticas com responsáveis e prazos.
- 10 min — Decisões executivas: priorização e remoção de impedimentos.
8) Papéis e responsabilidades
- Financeiro: fechamento, conciliações, integridade de dados.
- Controladoria: plano de contas, rateios, relatório e análises.
- Gestores de área: explicação das variações e plano de ação.
- Sócios/CEO: direcionamento, priorização e patrocínio.
9) Rode um piloto e ajuste em 90 dias
- 1º mês: versão 1.0 em operação.
- 2º mês: ajuste fino de contas e critérios de rateio.
- 3º mês: estabilize D-5 e inicie um BI básico; só então amplie detalhamento.
Ferramentas e rituais
Você não precisa de um grande sistema para começar. Uma planilha clara, com abas por mês e um consolidado, resolve a versão 1.0. Deixe visíveis os critérios de rateio e um campo de comentários. Quando a rotina estiver estável, conecte ao BI para dashboards de margem por canal, variações e U12M. Para garantir prazos, use um Kanban do fechamento (D+1 a D+5) e uma agenda padrão de reuniões — o processo fica previsível e fácil de treinar.
Indicadores e KPIs essenciais
- Margem Bruta (%) = (Receita líquida – CMV) / Receita líquida.
- Margem de Contribuição (%) = (Receita líquida – custos variáveis) / Receita líquida.
- Despesas Fixas sobre Receita = Despesas fixas / Receita líquida.
- EBITDA e EBITDA (%) = resultado operacional antes de depreciação e amortização.
- Ciclo de Caixa = PMR + PME – PMP (em dias) para medir necessidade de capital de giro.
- Real × Orçado: variação absoluta e percentual por conta e por centro.
Indicadores de apoio: desconto médio concedido, frete/receita por canal, comissões/receita e CMV% por família. Eles contam “onde a margem morre” antes que o resultado final denuncie.
Erros comuns (e como evitar)
- Usar caixa em vez de competência. Provisione o que for devido no mês (13º, férias, impostos) para não “maquiar” resultado.
- Plano de contas inchado. Se a leitura ficar lenta, você detalhou demais; volte um nível.
- Rateios arbitrários. Use critérios objetivos, documentados e revisados periodicamente.
- Misturar despesas pessoais com empresariais. Contas e cartões separados; ocorrências tratadas como retirada de sócios.
- Fechamento sem prazo. Calendário D-5 + Kanban + papéis claros = previsibilidade.
- Sem recorte por centro de resultado. Ao menos um corte relevante (ex.: Varejo × B2B) para revelar alavancas.
- Dados sem rastreabilidade. Guarde notas do fechamento com fontes, planilhas e versões — auditar vira tarefa de minutos.
Resumo e próximos passos
Como implementar um DRE gerencial simples e útil em 30 dias: comece pelo básico, respeite a competência, coloque a margem de contribuição no centro, crie ao menos um recorte por centro de resultado e mantenha a cadência D-5. A disciplina transforma números em decisões e protege a margem todos os meses.
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